quarta-feira, 23 de junho de 2010

O dia da morte de Saramago

«Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais».
                                                                                                                                               José Saramago
E, também ele, não acabará jamais…
Separou-se a alma do corpo, contudo, nunca se desligará o nome do génio.
Como homenagem e em nome de todos os que amam Saramago, faço minhas as palavras de Ana Sofia David:

Perdoem-me os que não gostam da sua escrita de um modo a que me atrevo a chamar de discurso directo livre.
Perdoem-me os que não gostam do seu estilo rebelde, crítico, por vezes quase cruel.
Perdoem-me os que não gostam de se perder nos sonhos de uma passarola,
na sua própria cegueira, nos anos em que morre um poeta.
Perdoem-me os que não acreditam em mudanças e ilhas desconhecidas.
Perdoem-me os que não acreditam em vontades humanas.
Perdoem-me os que não acreditam que a língua é livre quando a literatura é sublime.

Abracem-me os que um dia voaram além do Terreiro do Paço.
Abracem-me os que ouvem música só de ouvir o nome "Blimunda".
Abracem-me os que gritaram comigo "Dá-lhe um barco!".
Abracem-me os que acreditam em alegorias e cavernas.
Abracem-me os que gostariam de entender a imensidão da escrita deste homem.

Que fiquem as horas entre livros no Galveias,
Que fiquem as lutas e conquistas,
Que fiquem as suas palavras e ditos do povo,
Que se façam honras a quem as merece.
                                                                                                        DAVID, Ana Sofia, In http://freezone.pt/

23/Junho/2010

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